Há poucos dias, as Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade (PIMC) – nome oficial dado em 1935, mas popularmente conhecidas como “orionitas” ou “Irmãs de Dom Orione” – deram início aos festejos do Ano do Centenário do nascimento de sua Congregação ou Família Religiosa.
Pois bem. Tudo, oficialmente, começou em 29 de junho de 1915, em Tortona, norte da Itália, tempo do Pontificado de Bento XV e também da primeira guerra mundial (1914-1918) “que ocasionou à humanidade uma enorme pobreza generalizada, com as respectivas consequências de uma sociedade derrotada pela perversidade humana” (Ir. Maria Priscila Oliveira. A herança de um carisma na ótica feminina. São Paulo: Loyola, 2012, p. 38). Foi a hora em que Dom Orione – dinâmico sacerdote italiano ordenado em 1894, falecido em 1940 e canonizado em 2004 – viu ser chegado o momento de valer-se das mulheres, até então muito excluídas de certos ambientes sociais, para difundir pelo exemplo e pela palavra o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo àquele mundo carente de amor.
Inseria-se nesse programa evangelizador a promoção da educação da juventude e melhores condições de vida para ela bem como uma atenção especial às crianças de rua, abandonadas e viciadas, promover a catequese das famílias e o cuidado com os idosos, doentes e quem mais aparecesse na condição de necessitado perante as religiosas. Sim, a dor de Cristo presente nos irmãos abandonados chamava a atenção do observador Padre Luís Orione que “desde pequeno tinha visto o sofrimento dos pobres, que mourejavam debaixo do sol quente, ou por entre névoa fria tão comum na sua terra; tinha visto a prepotência e a ambição dos poderosos, possuidores de palácios suntuosos e esbanjadores de somas enormes e festas sem fim, e que colhiam dinheiro a jorro das lavouras ou das fábricas em que outros é que trabalhavam” (Pe. Renato Scano. O homem dos impossíveis: Dom Luís Orione. São Paulo: Loyola, 1999, p. 14).
Certamente, aquele destemido sacerdote teve, junto às suas Irmãs, de enfrentar tempos turbulentos e de grandes necessidades materiais. Ele, porém, não se desesperava e dizia: “Somos Filhos da Divina Providência e não desesperamos, mas pelo contrário, confiamos sumamente em Deus! Não somos daqueles pessimistas que acreditamos que o mundo acabará amanhã. A corrupção e o mal moral são grandes, é verdade, mas julgo e creio firmemente que o último a vencer será Deus, e Deus vencerá na sua infinita misericórdia” (Lettere II apud A herança de um carisma, p. 52).
Não se pode esquecer a grande devoção a Nossa Senhora que Dom Orione legou às suas Irmãs. São suas palavras: “A nossa pequena Congregação da Divina Providência foi assistida, desde o primeiro dia, do primeiro menino, dos primeiros jovens; eles foram conduzidos diante da imagem de Nossa Senhora, lá na catedral de Tortona, e foram confiados à Santa Mãe do Senhor [...]. Posso dizer-lhes que, antes mesmo, quando estava apenas no desejo de fazer algo aos meninos de Tortona, eles já tinham sido oferecidos a Nossa Senhora, como faz a mãe cristã, que com fé diligente, oferece o filho antes de nascer à Mãe Santíssima [...] (A herança de um carisma, p. 174). Para ele, a “Nossa Senhora do manto azul”, a mãe de uma grande descendência, com quem sonhara em 1893, sempre fora a “celeste fundadora” e a Ela suas religiosas deveriam recorrer sempre, especialmente por meio do Santo Rosário, pois quem vive o Rosário, vive o Evangelho (cf. Lettere II, 30/set./1939, p. 545).
Aliás, o carinho da Mãe de Deus para com Dom Orione se deu mesmo antes que ele nascesse por meio de um sinal muito interessante: durante o mês de maio de 1872, as famílias rezavam, como todos os anos nessa época, o terço na frente de um quadro de Nossa Senhora diante do qual depositavam rosas. Dessas rezas participava Dona Carolina ou “Mamãe Carolina”, como era chamada a mãe de Dom Orione, que também ofertava flores à Virgem Santíssima. Eis que um fato enigmático se deu: todas as flores murcharam, como é natural, com o passar do tempo. Menos uma. As pessoas simples do lugar e até o culto sacerdote viram nisso um sinal de que algo extraordinário iria acontecer. E aconteceu. Um mês depois da cena, a senhora Carolina deu à luz o pequeno Luís, destinado por Deus a levar ao mundo o bom odor de Cristo (cf. 2Cor 2,15) por meio de suas fundações, dentre elas as Pequenas Irmãs
Missionárias da Caridade.
Desejava ainda o Santo Fundador que elas fossem missionárias e chegou a dizer-lhes: “Quando os limites da Itália e da Europa já não forem suficientes à caridade de vocês para com Jesus e para com os pobres de Jesus Cristo, então sim, o coração de Jesus abençoará suas comunidades! Que significa ser Missionárias senão isto: ir pelo mundo inteiro a evangelizar com a fé e com a caridade do Senhor?” (Magna Carta do Oceano Atlântico, 18/ago./1921, p. 210).
Esse trabalho, que não é mera filantropia (amizade com o homem), mas caridade cristã, ou seja, serviço aos mais necessitados por amor de Deus, chegou a Amparo em 1959 com a fundação do Educandário Nossa Senhora do Amparo, internato para meninos órfãos e carentes até o ano 2000, que hoje funciona como um núcleo de apoio educacional, pois recebe alunos e alunas da rede pública de ensino em horários opostos ao de suas aulas para receberem práticas educativas diversificadas capazes de ajudá-los em sua formação humana e educacional levando-os a um futuro melhor para si e para suas famílias.
Neste ano do centenário, nós que vemos o belo, mas também ardoroso (às vezes, por falta de melhores recursos materiais, não obstante a ajuda do povo amparense), trabalho das Irmãs de Dom Orione na cidade de Amparo não podemos deixar de parabenizá-las, rezar por elas encorajando-as com as palavras de São Luís Orione, o Santo Fundador: “Ave-Maria e avante!”.